Nessa época, a procura por pacotes de tecnologias que incluem desde cercas elétricas até complexos sistemas de vídeo monitoramento cresce exponencialmente, muito em função da proximidade das festas de fim de ano e das férias. Neste ano, um novo componente vem ampliando o interesse de clientes empresariais e residenciais por esse arsenal de proteção: a onda recente de violência no Brasil.
Segundo fornecedores ouvidos pelo Valor, o aumento da demanda por sistemas e equipamentos foi de 20%, em média, desde o início dos incidentes. A maioria dessas consultas está sendo realizada por novos clientes. “Esse índice já desconsidera o crescimento tradicional nessa época, também de 20%”.
Grande parte da população e das empresas está distante da zona de confronto entre policiais e criminosos. Os incidentes têm se concentrado em determinados.
Para os especialistas, no entanto, esse aspecto não deixa de trazer reflexos diretos na demanda. “Momentos como esse aumentam a sensação de insegurança, mesmo que as pessoas não sejam diretamente ameaçadas”, disse Carlos Progianti, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese).
Progianti disse que uma mudança recente no perfil das consultas dos clientes é um bom indicador desse cenário. Em períodos de normalidade, tecnologias de monitoramento, como os circuitos fechados de TV, respondem pela maioria das solicitações. Por outro lado, em situações atípicas aumenta a procura por recursos mais ligados à proteção efetiva frente a um perigo iminente. Nessa vertente, estão incluídos alarmes, sensores e cercas elétricas, entre outras tecnologias. “É o que vem acontecendo. Os clientes têm mostrado um interesse maior por tecnologias ligadas a barreiras físicas”, afirmou.
O mercado brasileiro de segurança eletrônica cresceu a um ritmo anual de 11% nos últimos cinco anos, segundo dados da Abese. Em 2011, o setor movimentou US$ 1,83 bilhão no país. Cerca de 88% dos negócios estão relacionados a clientes não residenciais.
A concentração no segmento empresarial, entretanto, tende a diminuir. De acordo com as companhias, esse movimento é anterior à onda de ataques, mas vem sendo reforçado por esse contexto. A mudança é expressa na adoção de tecnologias mais sofisticadas, como o controle de acesso de pedestres e veículos, e os sistemas de vide monitoramento. “Antes, mais restrito a grandes empresas e condomínios comerciais, esse nível de proteção está começando a migrar também para os condomínios residenciais”.
Essa migração vem acontecendo pouco a pouco. Os condomínios residenciais de alto padrão foram os primeiros a investir em recursos como códigos e sistemas de biometria para controlar o acesso a elevadores, garagens, áreas de lazer e outras áreas comuns das instalações. Hoje, é raro que um novo empreendimento nessa categoria não compreenda essas tecnologias desde a concepção do projeto.
Da mesma forma, os condomínios de alto padrão mais antigos puxaram uma segunda onda de adoção, ao substituírem suas tecnologias por ferramentas mais avançadas. Agora, os fornecedores dizem que os condomínios residenciais de menor porte, instalados em diferentes regiões de São Paulo, estão começando a seguir o mesmo caminho.
As tecnologias de segurança eletrônica estão acompanhando a busca por um nível de proteção diferenciado. A principal tendência é o desenvolvimento de softwares que acrescentam inteligência aos circuitos de vídeo monitoramento. Essas novidades são reforçadas pela transição das câmeras analógicas para as câmeras IP, que são conectadas à internet, têm sensores infravermelhos e oferecem melhor qualidade de imagem.
Com o auxílio de softwares e algoritmos, esses equipamentos são capazes de detectar qualquer padrão que destoe dos parâmetros preestabelecidos pelos clientes. Entre outras aplicações, as câmeras conseguem medir a velocidade de movimentos e contar quantas pessoas estão em um recinto. “Uma joalheria, por exemplo, pode definir que certo número de pessoas paradas em frente à vitrine da loja, por um determinado período, é uma situação de atenção”, disse Moreira.
A partir da identificação de qualquer exceção à regra, as câmeras podem – entre outras ações – emitir um alerta de atenção para uma central remota de monitoramento. Já existem ofertas disponíveis para que o cliente acesse em tempo real as imagens por meio de smartphones e tablets. Ao mesmo tempo, os sistemas permitem a gravação remota, o que evita a perda das imagens em caso de destruição ou captura das gravações no local pelos criminosos.
Segundo Mauro de Lucca, gerente de integração de sistemas da britânica G4S Technology, a próxima evolução desse tipo de tecnologia é um sistema que cria automaticamente seus próprios parâmetros a partir da análise da rotina de um determinado local. “Já temos empresas no Brasil testando esse software”, disse o executivo.
No campo do controle de acesso, por sua vez, uma das aplicações que começa a ganhar escala é o uso de chips de radiofrequência, que podem ser instalados em veículos, equipamentos e crachás. “É possível monitorar qualquer movimentação no imóvel e, se for preciso, interagir com as pessoas”